Pantera Negra

Por | 2018-02-26T02:18:15-03:00 26 de fevereiro de 2018|Resenha cinematográfica|0 Comentários

Pantera Negra (Black Panter) (Aventura/Ficção-cinetífica/Ação); Elenco: Chadwick Boseman, Michale B. Jordan, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Forest Whitaker, Andy Serkis; Direção: Ryan Coogler; USA, 2018. 134 Min.

Com as bençãos de Stan Lee, que aparece no longa numa cena hilária, para variar, “Pantera Negra” salta das Histórias em Quadrinhos (HQs) e outras mídias para o cinema como parte do projeto de expansão cinematográfica do universo Marvel para a telona. O terceiro herói ambientado na àfrica mas, primeiro herói negro protagonista de suas revistas, “Pantera Negra”, diferente de Tarzan e Fantasma, dá mais atenção ao contexto e a realidade africana. O grande diferencial, dessa vez, é o elenco predominantemente negro e a equipe, também. Como um herói que, desde “Capitão América: Guerra Civil” (2016), se anuncia nas histórias do universo expandido, essa foi a sua apresentação, ao público, através do filme protagonizado pelo herói africano.

A África nunca esteve no universo das HQs em nível de igualdade com os demais continentes, e quando apareceu foi através de um olhar externo e etnocentrista que evocava exotismo e estranhamento, vide Tarzan e Fantasma. Tarzan surgiu em 1912 criado pelo americano Edgar Rice Burroughs na All-history Magazine. Foi publicado em livro em 1914, virou filme em 1918 com o título Tarzan of the Apes dirigido por Scott Sidney e estrelado por Elmo Lincon. Fantasma “O Espírito que Anda”, também é um homem branco, cuja vida é ambientada na África, num país fictício chamado Bengalla e foi criado por Lee Falk em 1936 para uma tirinha de jornal e já foi publicado pela Marvel e pela DC Comics. O filme foi lançado em 1996 dirigido por Simon Wincer e estrelado por Billy Zane. Em ambos os casos os heróis não tem superpoderes, apenas habilidades extraordinárias e uso de artefatos que potencializam essas habilidades como extensões do corpo.

Marvel Studios’ BLACK PANTHER
Forest Whitaker as Zuri, Daniel Kaluuya as W’Kabi, Michael B. Jordan as Erik Killmonger, Lupita Nyong’o as Nakia, Chadwick Boseman as Black Panther/T’Challa, Angela Bassett as Ramonda, Danai Gurira as Okoye, and Letitia Wright as Shuri photographed exclusively for Entertainment Weekly by Kwaku Alston on March 18, 2017 in Atlanta, Georgia.
Kwaku Alston � 2017 MVLFFLLC. TM & � 2017 Marvel. All Rights Reserved.

“Pantera Negra” foi criado em 1966 por Stan Lee e Jack Kirby e  apareceu pela primeira vez nos quadrinhos na Fantastic Four #52 e é o primeiro super-herói negro a protagonizar suas histórias numa HQ. Antes, tivemos heróis negros misturados num contexto sem protagonização como Waku, príncipe de Bantu em All-Negro Comics#1 (1947) que só teve uma edição.  O Lobo do faroeste ou em, Jungle Tales (1954), ou ainda, o Soldado Gabriel Jones na  Sgt Fury and His Hawling Commands. Os mais conhecidos são “Falcão” (1969) e “Luke Cage” (1972) da Marvel. Ou seja, Pantera Negra tem seu diferencial na editoração como protagonista e na composição de seu personagem, é o primeiro com poderes místicos. A jornada de Pantera Negra na HQs segue a trajetória de todo super-herói, ao sabor do mercado editorial. Como tudo também orbita de acordo com o momento em que está inserido, teve problemas, logo no início devido ao movimento dos Panteras Negras nos EUA, mas superou. Hoje o movimento da representatividade é o grande fomentador do longa-metragem de Ryan Coogler, que, além de abandonar o olhar externo em relação à África, mergulha na cultura mitológica daquele continente, e traz um contingente respeitoso de afro descendentes no elenco e ainda, os cerimoniais, a ética, o respeito ás tradições e um figurino inspirado nos vestuários tribais. E como é um filme de super-heróis, a inserção da tecnologia, necessária para a história funcionar, como uma extensão da filosofia bem presente nas culturas daquele continente.

O objetivo consiste na apresentação da personagem e seu contexto no universo expandido da Marvel para o cinema, a história versa sobre ética. Aproveitando o recorte da série criada (1973-1976) na Jungle Action onde surgiu o vilão Erick Killmonger (Michael B. Jordan), este é trazido de lá para disputar o trono de Wakanda com T’Challa/Pantera Negra (Chadwick Boseman). Enquanto isso, a tecnologia secreta desenvolvida a partir do vibraniun pelos wakandenses é roubada por Ulisses Klaue (Andy Serkis)  para fabricar armas potentes e vende-las para outros países. Combatendo nas duas frentes o herói africano se desdobra para resolver as questões internas e externas com a ajuda de seu conselho, sua família e sua general Okoye (Danai Gurira).

O longa-metragem cumpre bem o seu papel como filme de super-heróis. E mais, o de representatividade, são afrodescendentes apresentando, mesmo que de forma fantástica, o continente africano. Do diretor, passando pelo roteirista e uma maioria predominante do elenco são negros falando e representando suas raizes. Ryan Coogler de “Creed: Nascido para Lutar” (2015) que dirige o longa e co-roteiriza com Joe Robert Cole de “American Crime Story (2016) pelo qual foi indicado ao Primetime Emmy; Chadwick Boseman de “Get On Up: A História de James Brown” (2014); Michael B. Jordan de “Quarteto Fantástico” (2015); Lupita Nyong’o de “Star Wars: Os Últimos Jedi” (2017); Danai Gurira de “The Walking Dead” (série de TV) dentre outros. O grande destaque vai para o figurino assinado por Ruth E. Carter de “Selma: Uma Luta pela Liberdade” (2015).

Em suma, “Pantera Negra” é mais do que um filme de super-heróis. Diferente de “Tarzan” e “Fantasma” é um filme que se pretende um olhar mais aproximado da África. É ambientado na África, falado em Swahili, Nama, Xhosa, inglês e coreano. Não tem sua aventura passa da em Nova York como os outros e tem uma produção condizente com a cultura africana. “Pantera Negra” é apresentação na modalidade cinematográfica de uma personagem surgida a meio século e aí se insere com o pé direito. Não deixa de ser um filme de fantasia, do nicho da ficção científica, com muita ação e aventura,  e não é de cunho político, embora tenha suas falas históricas. Ou seja, fecha a tampa com louvor. Vale o ingresso!

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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