‘Heroína(s)’ – alteridade, solidariedade e ação social pelo bem comum

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‘Heroína(s)’ – alteridade, solidariedade e ação social pelo bem comum

Por | 2018-07-28T16:38:19-03:00 28 de julho de 2018|Recomendados, Resenha cinematográfica|0 Comentários

Heroína(s) (Heroin(e)) (Documentário); Participações: Jan Rader, Patrícia Keller, Necia Freeman; Direção: Elaine McMillion Sheldon. USA, 2017. 39 Min.

 

Introdução

A Cidade de Huntington em West Virginia se encontra no epicentro da epidemia de opióides na América, é considerada a capital da overdose nos Estados Unidos. O média-metragem de 39 Minutos dirigido por Elaine McMillion Sheldon traz a história do combate à essa realidade e a este estigma mostrando o cotidiano de três mulheres: a chefe do departamento dos bombeiros da cidade, Jan Rader; a juíza da corte de entorpecentes do condado de Cabel Patrícia Keller e a agente social de um ministério cristão qua atua nessa seara na cidade, Necia Freeman. Juntas, cada uma em sua esfera de atribuições combatem o uso e abuso de drogas através de socorro,  de medidas sociais legais de acordo com a legislação  e de ajuda com infraestrutura em conjunto com programas sociais distribuindo alimentação, retirando das ruas e conseguindo abrigo.

O registro desse trabalho num documentário forte, chocante e, ao mesmo tempo, acalentador, é um grito de alerta para uma realidade dura e que não é exposta como realidade da América, ao mesmo tempo que mostra o quanto de pouquinho em pouquinho se pode fazer a diferença.

O Curta-metragem

Ninguém procura as drogas por que a vida está maravilhosa ou porque está explodindo de felicidade. O media-metragem denuncia uma realidade social de desemprego, de falta de preparo educacional, de problemas na estrutura familiar, ou seja, de afeto. A realidade é um microcosmo de uma realidade muito maior de construção de sociedade e seu modo de produção que tolhe, mutila, explora, não proporciona segurança social e que é mundial, não é só privilégio dos Estados Unidos. Isso para falar dos aspectos social e econômicos, sem entrar nas questões antropológicas da construção dos tipos  de sociedades que estamos criando e nos virando para dar conta dessas relações líquidas, superficiais, sem comprometimento ético e afins. A obra se detém  na realidade de Huntington, mas ela pode ser a realidade de muitos outros lugares. Essa é privilegiada por constar em registro numa obra audiovisual que teve a oportunidade de concorrer ao Oscar e que, por isso, tomou essa proporção em conhecimento e divulgação. Aqui se registra o cotidiano de socorro a vítimas de overdose, uma média de 70/dia (não, não é pouca coisa) por isso, chamou atenção da diretora Elaine McMillion Sheldon. O tour é feito no carro da chefe dos bombeiros com o registros dos socorros, primeiros atendimentos e com imagens chocantes. Num segundo momento se apresenta o trabalho de Necia Freeman, uma assistente social que trabalha numa organização cristã que ajuda moradores de rua vítima do uso de drogas e prostituição. A distribuição de alimentos, material de higiene, o emprestar os ouvidos para ouvir o que o outro tem a dizer, encaminhar para abrigos e clínicas e por último o trabalho da Juíza Patricia Keller que, coordena as punições legais aos que cometem pequenos delitos consequentes do uso de drogas em conjunto com programas de sociais de reabilitação.

O audiovisual, independente da modalidade, se cinema, televisão, plataforma streaming é um instrumento que serve para diversos fins, da diversão  aos fomentos ideológicos; de difusor de pensamento e fomentador de reflexão à veículo de quebra de paradigmas. “Heroína(s) se encaixa na segunda premissa. Nos mostra uma realidade que não aparece na vitrine da terra da liberdade e nos mostra o quanto pode cada um na mudança de uma realidade. Três mulheres em seus afazeres profissionais fazem a diferença na cidade de Huntington. Isso, direta ou indiretamente, também fomenta em nós, qualquer que seja nossa atividade secular a acreditar que também podemos fazer alguma coisa pelo nosso entorno dentro de nossas capacidades, possibilidades e oportunidades. Nos incentiva a nos importarmos com o próximo, nos mostra que dá resultado, é só dar o primeiro passo.

Considerações finais

“Heroína(s), para além de uma obra cinematográfica é o registro do bem e da força de mulheres, na história e por trás das câmeras. Dirigido por uma mulher, Elaine McMillion Sheldon; registrado pela diretora de fotografia Karren James Sheldon e editado por Kristin Nutile o curta é uma metalinguagem da força de mulheres no fazer a diferença no mundo. O título do documentário faz uma alusão  à droga mais consumida naquele contexto e que traz o roteiro chocante a que o espectador assiste e que metaforicamente traça um paradoxo como o adjetivo que caracteriza o socorro, a ajuda e a orientação. Que belo trocadilho!

A diretora tem outros trabalhos, dentre eles um produto consequência deste ,”Amigos da Clínica” (Recovery Boys) (2018), também uma produção Netflix. “Heroin(es)” (no original) é para se assistir mais de uma vez. A primeira, para se impactar; a segunda para admirar a coragem, a força e a dedicação dessas mulheres, e também para se inspirar. Vale mais do que pesa. Que belíssimo trabalho!

  • “Heroina(s)” e “Amigos da Clínica” continuam disponíveis na plataforma Netflix para serem vistos a qualquer tempo.

 

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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