No último dia 20 a equipe do filme “A Glória e a Graça” receberam a imprensa: jornalista e blogueiros para uma entrevista coletiva como parte das atividades do lançamento do longa-metragem. Em clima descontraído a equipe falou sobre o processo de laboratório que Carolina Ferraz fez para viver a personagem Glória – um travesti – sobre a criação do roteiro e seu caminho de aperfeiçoamento num período de nove anos de encubadora; sobre a, possível, polêmica de uma mulher fazer o papel de uma trans; sobre o a elaboração da personagem de Carol Marra, que é uma mulher trans; sobre a direção de Flávio Tambellini e o que significou para Sandra Corveloni fazer uma mãe que recebe um ultimato médico e precisa organizar a vida dos filhos. Ou seja, uma personagem dramática e nostálgica.
Sobre a história, ela foi gestada por Mikael Albuquerque a partir de alguns processos judiciais de adoção de crianças por casais gays. A criação demorou nove anos entre leituras, releituras, reescritas e finalização. Um dos aspectos que chama a atenção na composição do elenco é o de uma mulher fazer o papel da travesti. A atriz Carolina Ferraz contou sobre seu processo de pesquisa ouvindo mais de sessenta depoimentos de travestis e trans, sobre a adaptação a uma prótese bucal para ficar mais masculina a construção do gestual. Carolina aproveitou para registrar que o que quis, na realidade, foi fugir da caricatura e sim, fazer um ser humano que é travesti. Sobre a possível polêmica, Carolina diz que ela é bem-vinda a partir do momento que fomente discussão e que se proposite a aprimorar o entendimento de questões relativas ao mundo LGBT e que proporcione que a sociedade, como um todo, debata as questões. Carol Marra acrescentou que: “O importante é levar informação para a população que não sabe o que ser trans e o que é ser travesti. O que há é uma imagem deturpada de tudo isso. Levando informação, acho que a gente consegue diminuir um pouco o preconceito.”
Sobre a direção, Flávio Tambellini conta que o processo de direção, no caso da personagem da Carolina, foi transformar a Carolina num homem para depois transforma-lo em uma mulher. Em relação à questão posta no filme sobre a adoção de crianças por um travesti (que seria a tia das crianças) ele repete um ditado de cinema que diz: “É mais fácil fazer um filme sobre a carta sobre que fazer sobre o correio” explicando que em meio a um celeiro tão rico de assuntos, questões e nuances eles tiveram que selecionar sobre o que iriam falar e primaram pela escolha de um assunto familiar, cotidiano,que acontece com qualquer um e que, por um acaso, tem o envolvimento de uma travesti. O importante no filme é que a personagem foge do estereótipo de marginal. E Mikael acrescenta que a história é orgânica e pertence a um universo vivo. Não é um filme que fale sobre travesti. Ele joga a personagem na história de forma natural e fala sobre resgate familiar. “A Glória e a Graça” não é um filme sobre preconceito. Ele fala sobre o reencontro dessa família e a humanidade dos personagens. Quanto a abordagem jurídica sobre adoção de crianças ela não foi aprofundada porque aí seria outro filme. Mikael afirmou que fosse fazê-lo iria aprofundar de fato as questões e não houve possibilidade pois não era esse o foco.
Sandra Corveloni, atriz premiada em Cannes por “Linha de Passe” (2008) falou sobre o que significou fazer a personagem Graça e os elos que ela buscou em seu cotidiano, como a condição de mãe e a relação de afeto com sua irmã. Acrescentou ainda, que sofreu bastante para fazer a personagem, mesmo o set de filmagem sendo harmônico e agradável, foi um personagem bastante emotivo.
Para fechar, Flávio Tambellini define o filme como melodrama pop. Como ele queria que o filme tivesse cor e fosse narrativo, foi dentro dessas premissas que ele pontuou seu trabalho, um filme que foi filmado em quatro semanas. E acrescenta: “Eu queria contar uma história. A direção de arte é boa, a fotografia é boa. Mas foi fundamental, o elenco.”
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