Entrevista coletiva com os cineastas do 8º Encontro de Cinema Negro

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Entrevista coletiva com os cineastas do 8º Encontro de Cinema Negro

Por | 2015-05-31T05:15:39-03:00 31 de maio de 2015|Entrevistas|0 Comentários

 

Da esquerda para a direita: Mamadou Cissé, Mansour Sora Wade, Cheick Oumar Ssissoko, Cheick Fantamady Camara.

Da esquerda para a direita: Mamadou Cissé, Mansour Sora Wade, Cheick Oumar Ssissoko, Cheick Fantamady Camara.

Na última quinta-feira (28) o curador e a diretora geral do 8º Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe – Zózimo Bulbul; Joel Zito Araújo e Biza Vianna, respectivamente, receberam os veículos de comunicação (jornalistas e blogueiros) no recém inaugurado Cine Odeon para uma entrevista coletiva com os cineastas africanos, brasileiros e americanos que estão com trabalhos exibidos na mostra. Estavam presentes tanto cineastas experientes e premiados no Festival de Burkina Faso, o Secretário Geral da Federação Pan Africana de Cinema (FEPACI), Cheick Oumar Sissoko como jovens realizadores brasileiros que iniciam suas carreiras como cineastas. A entrevista se transformou numa conversa informal sobre a paixão de todos os envolvidos: o cinema.

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O Encontro de Cinema Negro se proposita a ser um imenso espaço de trocas culturais e intercâmbio entre cineastas brasileiros e africanos fortalecendo os laços culturais, promovendo criação de identidade e proporcionando crescimento profissional. A partir de 2013 o evento passou a se chamar Zózimo Bulbul em homenagem ao seu criador, que fora ator, cineasta e roteirista brasileiro e pioneiro do cinema negro no país. Após seu falecimento sua companheira, Biza Vianna, deu continuidade ao seu trabalho cuidando de seu legado. Sob curadoria de Joel Zito Araújo, cineasta, acadêmico e pesquisador de cinema, o 8º Encontro de Cinema Negro se iniciou em 27/05 a vai até 03/06.

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Dentre os cineastas que apresentaram-se  e a seus filmes, estão brasileiros, americanos e africanos, foram eles: o capixaba Alesander Buck de “O Repolho”; o paraense Luiz Arnaldo Campos de “A descoberta da Amazônia pelos Turcos Encantados”; a paulista Avelina Regicida de “25 de Julho: Feminismo Negro Contado em Primeira Pessoa”; a baiana Erika Sansil de “Maria”; a sergipana Everlane Moraes de “Conflitos e Abismos”; representando Pedro Paulo Rosa de “Vovó Leontina” Luana Dias; a brasiliense Edileuza Penha da Silva de “Mulheres de Barro”; a nova Iorquina Yoruba Richen de “New York Black”; o nigeriano Nosa Igbinedion de “Oyá: rise of the Oishas” (A subida dos orixás); a etíope Hermon Hailay de “O preço do Amor”; o também etíope, Teddy Goitom de “Afripedia GANA”; a paraense Célia Maracajá que atuou em “A descoberta da Amazônia pelos Turcos Encantados”; a amazonense Elen Linth de “Muros” e o carioca Alexandre Rosa de “Canjerê, o Encontro Ancestral”.

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Os grandes  cineastas africanos estavam presentes: Cheick Oumar Sissoko do Mali, de “Rapt à Bamako” e também Secretário Geral da FEPACI. Mamadou Cissé, também do Mali, e diretor de  “Devoir de Memoire” um dos premiados no último Festival de Burkina Faso; Cheick Fantamady Camara, da Guiné-Conakri, e diretor de “Morbayassa” e Mansour  Sora Wade, do Senegal,  diretor artístico do Encontro  de Cinema Negro desde sua fundação. Quando dada a  palavra a Mamadou Cissé, ele seguiu a tradição africana e a explicou para todos que, em seu país quem fala primeiro são os mais velhos e os chefes e cedeu a palavra a Oumar Sissoko.

Cheick Oumar Sissoko

Cheick Oumar Sissoko

Oumar Sissoko em sua fala diz que, o que o trouxe ao cinema foi a política. E que gostaria de testemunhar a força do cinema. Quando jovem ele estudava matemática  e era muito engajado. Descobriu que o cinema possui uma força incrível para veicular ideais de justiça e progresso. Parou com os estudos da matemática e dedicou-se aos estudos da Sociologia,  História e  cinema. Disse ainda que a Sociologia e a História promovem conhecimento sobre nós mesmos, sobre a nossa história e  de nossas sociedades. E que se não conhecermos a nós mesmos e a nossa História  não faremos filmes que nos libertem. Parou de dirigir filmes quando foi nomeado a ministro da cultura em seu país e ficou sem fazê-lo durante quinze anos até ser sugerido que voltasse a fazê-lo. Então, nessa edição ele nos apresenta seu primeiro trabalho depois desse tempo parado, “Rapt à Bamako”. Disse também que a FEPACI  está tentando juntar todos os cineastas da África e da diáspora africana. E que precisam capacitar os jovens diretores para que alcancem o nível dos diretores do hemisfério norte. “Precisamos fazer filmes e distribui-los. Os filmes que fazemos estão ausentes das imagens que circulam no mundo. Eis a luta que precisa nos unir”.

Mamadou Cissé

Mamadou Cissé

Em seguida Mamadou Cissé faz uso da palavra dizendo que é a primeira vez que vem ao Brasil e está muito impressionado, acha inclusive que vai ficar para fazer mais um filme. Conta que foi a geração de Oumar Sissoko que  os ensinou a fazer cinema. Acrescenta que se formou em informática, mas aprendeu o ofício cinematográfico com Sissoko. Nesta edição apresenta o documentário chamado “Devoir de Memoire”.

Cheick Fantamady Camara

Cheick Fantamady Camara

Cheick Fantamady Camara é convidado a  se pronunciar e diz que é a segunda vez que vem ao Brasil. Na primeira conheceu Zózimo Bulbul e ficou muito impressionado. Descobriu os negros do Brasil, descobriu o Festival e nessa segunda vez a emoção permanece. Conta que saiu da Guiné- Conakri e foi para Burkina Faso para aprender o ofício de cinema e trabalhou com vários cineastas  Burkinabês, e foi assim que aprendeu a fazer cinema.  Diz ainda: “Eu realizo filmes, alguns engajados e outros menos. Estou vendo esses jovens e isso me impressiona. Sugiro que não nos contentemos em falar e somente trocar experiências, mas que esses jovens sejam convidados para o Festival de Burkina Faso para apresentarem suas produções, para que haja um encontro de olhares cruzados” e Sugere a direção do encontro e a FEPACI para ver a possibilidade de organizar esse cruzamento de olhares e que os filmes fossem vistos tanto aqui como lá.

Mansour Sora Wade

Mansour Sora Wade

Por fim, o diretor artístico do Encontro de Cinema Negro, Mansour Sora Wade faz sua fala dizendo estar no Brasil pela oitava vez, e que colabora com o Festival como diretor artístico para a parte africana e que faz parte dos veteranos do evento. “Zózimo para mim é como se fosse da família. Eu descobri o Brasil graças a ele. Conheci Zózimo quando comecei os meus estudos de cinema, a primeira feijoada que eu provei foi ele quem preparou”. E Continua dizendo que a graças a Zózimo pela primeira vez, cineastas brasileiros puderam conhecer a África. A ponte entre a África o Brasil relativo a cinema foi estabelecida desde então. A Organização da União Africana decidiu , inclusive decretar que á diáspora africana se tornasse a 6ª região africana. No FESPACO (Festival Pan Africano de Ouagadoudou – em Burkina Faso) tinha duas seleções diferentes uma para o filmes africanos e outra para os filmes da diáspora, agora graças ao trabalho de Cheick Oumar Sissoko conseguiu-se que os cineastas da diáspora possam concorrer na competição oficial. “Agora ambos estão no mesmo nível, tanto os da diáspora como os africanos. Essa luta já surtiu efeito”.

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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