>>Entrevista com os diretores do documentário “Em Um Mundo Interior”

Entrevista com os diretores do documentário “Em Um Mundo Interior”

Por | 2018-06-02T00:15:00-03:00 2 de junho de 2018|Entrevistas|0 Comentários

O site Cinema & Movimento (C&M) foi recebido, por telefone, na tarde da última quarta-feira (30/05), pelos diretores do documentário “Em Um Mundo Interior” que versa sobre autismo. Flavio Frederico e Mariana Pamplona conversaram com a gente sobre  a inspiração, o processo de pesquisa sobre o tema, as filmagens e o tempo de filmagem, os objetivos do filme e os projetos futuros. Flávio Frederico é conhecido por “Boca do Lixo” (2010) e o Doc “Em Busca de Iara” (2013). Mariana é roteirista das mesmas obras e está estreando como diretora.

C&M: O que motivou vocês a fazer um documentário sobre autismo?

Flávio: A Mariana foi quem trouxe o tema. Ela estava com vontade fazer um documentário sobre crianças com alguma dificuldade, e no momento havia toda uma discussão sobre a legislação do autismo e a gente topou.

Mariana: Ei tinha essa vontade, de fazer um documentário sobre crianças com dificuldades, só não sabia qual a dificuldade. Vi alguma coisa sobre Síndrome de Down e conversando com amigas que são psicanalistas e psicólogas surgiu a ideia de falar sobre autismo. Primeiro por ser um transtorno de largo espectro, que não é identificável pela aparência, não é fechado, não tem causa definida e não tem cura, é só terapia. Segundo, vi que não tinha documentários no Brasil sobre o assunto, então comprei a ideia.

 

C&M: Quais foram os referenciais (livros, obras técnicas) que vocês usaram para abordar o assunto?

Flávio: Não li livros, pesquisei alguns filmes e documentários internacionais. Alguns com uma abordagem bastante técnica, consultamos especialista renomados no Brasil dentro da área e conhecemos algumas crianças que havia sido tratadas por eles e começamos a acompanhar o dia a dia dessas crianças, a inclusão escolar, o lazer e as atividades terapêuticas.

Mariana: Li vários livros de diferentes correntes, algumas  contraditórias entre si e um livro puxava outro. Assisti a filmes e Documentários americanos e europeus, para descobrir que o que eu queria era uma abordagem que tivesse o viés do progresso, da possibilidade de melhora, dos usos das potencialidades das crianças e da sociabilidade.

 

C&M: Como foi a relação com as crianças durante as filmagens?

Flávio: Conhecemos antes as famílias, depois fomos apresentados às crianças e fomos nos ambientando. A gente trabalha com uma mesma equipe há tempos, todos muito competentes, cuidadosos, dedicados e que gostam de crianças e que respeitou o espaço que as crianças nos concediam.

Mariana: Foi surpreendente. Rolou empatia e afeto. A frieza com o tempo foi quebrada. Outra surpresa foi a força dos pais. Todo dia é uma batalha, um gasto de energia. Admirei a garra que eles tem que ter todos os dias e a esperança que eles possuem de que vai melhorar, e melhora. Mesmo que não tenha cura, é gratificante acompanhar essa evolução.

 

C&M: Quanto tempo demoraram as filmagens ?

Flávio: Todo processo entre filmagem e produção demorou de 3 a 4 anos. Só para você ter uma ideia, só para achar as crianças demorou de 1 a 2 anos.

 

C&M: E a escolhas das imagens mais significativas para pôr no longa depois tanto material, como foi?

Flávio: Demorou bastante tempo, tínhamos muito material. E aí decidimos intercalar o roteiro com os conceitos abordados pelos especialistas sem abrir mão do conteúdo. E encontrar as cenas significativas que se encaixassem aí com todo o material que tínhamos, não foi fácil, mas conseguimos, taí.

 

C&M: Qual o objetivo de vocês ao fazer o documentário?

Flávio: O objetivo maior é contribuir na discussão sobre o assunto e trazer luz sobre o transtorno. O estereótipo de autista é muito variado, não reconhecível na rua. Então, fomentar a discussão sobre o assunto é o objetivo.

Mariana: Eu espero que as pessoas tenham mais proximidade com a questão do autismo. Queremos passar alguma informação escutando especialistas e fomentar a inclusão. Você não tem ideia do quanto eles melhoram em contato com outras crianças no ambiente escolar. Isso é muito importante.

 

C&M: E sobre bilheteria?

Flávio: A gente sabe que documentário no Brasil não é tão assistido, que é difícil se manter no cinema. Então vamos lançar num circuito pequeno e vamos fazer sessões com debates. Mas não tenho nenhuma expectativa em relação a bilheteria. O principal é a gente conseguir o objetivo maior que a informação e o fomento à discussão e promover a inclusão.

 

C&M: Para encerrar a nossa entrevista, quais os próximos projetos de vocês?

Flávio/Mariana: O filme já tem um derivado que é a série de TV de mesmo nome para o canal Futura. Este ano ainda, estreia  outra série de TV para o canal Cine Brasil chamada “Natureza Morta”. Para o segundo semestre de 2018 tem outro documentário sobre a vanguarda paulista com o Grupo Rumo. Para 2019 tem o projeto Soul Brasil e um filme de ficção chamado “Amor Livre Amor” e para 2020 “Salto na Paulista” sobre a música negra brasileira.

 

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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