Trapaça. (American Hustle). (Crime/drama); Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence; Diretor: David O. Russell. USA, 2013. 138 Min
Nota: O texto contém spoilers
Parece comercial de ótica, mas não é. É o mais recente filme de David O. Russel conhecido por O lado bom da vida (2010), que satiriza o modo americano de viver e situa sua saga bem humorada na década de setenta, regada por uma trilha sonora estonteante.
Trata-se da história do golpista Irving Rosenfeld (Christian Bale), Rosalin Rosenfeld (Jennifer Lawrence) e Sydney Prosser (Amy Adams) que após serem presos – Irving e Sydney – decidem/são obrigados a ajudar ao FBI nas operações contra corrupção na política. A história é baseada na operação ABSCAM do FBI na década de setenta. O filme é um jogo de verdades e mentiras e a brincadeira é saber quem está jogando com quem e contra quem. A trama é tão intrincada e confusa, que valer-se das peculiaridades da linguagem cinematográfica para se guiar no vai-e-vem da história, é uma boa pedida.
O estabelecimento de verdades, que é a questão no filme, nos remete a Persona (Ingmar Bergman, 1966) em que a atriz Elisabeth Vogler (Liv Ullmann) após encenar Electra resolve ser o mais verdadeira possível e descobre que viver é atuar e pára todos os movimentos. Ao longo da trama óculos escuros são usados como máscaras. Segundo esse subterfúgio, já institucionalizado na linguagem cinematográfica, ver trapaça fica interessante.
Tudo é falso, maquiagem em excesso, dissimulação, disfarce, máscaras, nada é o que parece. O ‘xis’ da questão é, o que é falso e o que é verdadeiro, o que é jogada e o que não é. Irving Rosenfeld é careca e faz uma maquiagem no cabelo falso à base de cola e laquê que dá asco e tudo isso de frente para o espelho, crise de identidade é café pequeno. Os óculos de Irving são tocados o tempo todo, tirados e colocados e permanecem todo o tempo, até a penultima cena. Já a sua mulher Rosalin vive a trama inteira de carão em close, falando, gritando, gesticulando, chorando sempre sem óculos e termina comedida, terna e com óculos. Richie DiMaso (Bradley Cooper), molda seu rosto com bobs, Sydney Prossey também, ambos mestres em golpes e contra golpes e comandam seus respectivos nichos de falcatruas.
O filme tem momentos preciosos. A participação especial de Robert De Niro (Victor Tellegio). como o chefão da máfia. O figurino é bárbaro e traduz bem a década de setenta e a trilha sonora conta com nomes como Duke Ellington, Jack Jones, Donna Summer, Elton John, Bee Gees dentre outros.
Em relação a indicações a prêmios Trapaça esteve muito bem. Foi indicado a sete globos de ouro (2014), melhor filme (comédia ou musical), melhor diretor, melhor ator (Christian), melhor atriz (Amy), melhor ator coadjuvante (Bradley), melhor ariz coadjuvante (Jennifer) e melhor roteiro. Levou Melhor filme, Melhor ator principal, Melhor atriz principal e atriz coadjuvante. Para o Oscar 2014 foram 10 indicações, além das citadas para o Globo de ouro, melhor edição, melhor figurino e direção de arte. Não levou nenhum. Fazer o quê, não?!
A obra é uma galhofa ao estilo de vida americano um tempinho depois do escândalo Watergate. É para quem gosta de voltar no tempo e gastar neurônios com tramas intrincadas. Vale a pena conferir!
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