O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos

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O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos

Por | 2018-06-16T23:41:19-03:00 12 de dezembro de 2014|Análise cinematográfica|0 Comentários

O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos. (The Hobbit: the battle of the five armies). (Aventura/Fantasia); Elenco: Ian Mckellen, Martin Freeman, Christopher Lee, Orlando Bloom, Cate Blanchett, Richard Armitage, Luc evans Benedict Cumberbatch; Diretor: Peter Jackson; New Zealand/USA, 2014. 144 Min.

Uma das estreias desse fim de semana é um blockbuster que ocupará cerca de 1032 salas de cinema no circuito nacional. Trata-se de mais uma pequena parte da grande obra literária de J.R.R. Tolkien, adaptada para o cinema por Peter Jackson e uma turma de roteristas de primeira, dentre eles, o mexicano Guilhermo del Toro. O que faz dessa obra um  blockbuster com tanta grandeza e robustez é um bom assunto para uma análise cinematográfica. Iniciando pela significação da obra de Tolkien na literatura; a sua ousada imagetização, desde “O Senhor dos Anéis”, aproximadamente quinze anos atrás, já que levou três anos para ser filmada e  foi lançada em 2001; a tatibilidade que arrebata o público, inclusive o singelo espectador que não leu o livro nem pretende fazê-lo, e que se torna fã (embora com outra visão do filme). Vale a pena nos debruçarmos sobre esse caldo de criatividade, tecnologia e ousadia, muito bem sucedida, que o cinema possibilitou através do projetos de Peter Jackson.

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John Ronald Reuel Tolkien foi um filólogo, professor da Universidade de Oxford que levou quase quatro décadas para criar uma das histórias mais intrincadas, fantasiosas, inteligentes e que misturam mundos diferentes num mesmo espaçotempo: o dos elfos, dos humanos, dos wargs, dos orcs, dos magos, dos dragões, dos anões, dos espectros e tantos outros; com uma geografia imaginaria cartografada e idiomas inteiros, que jamais existiram, com semântica, ortografia e dicção/pronúncia de estupefar qualquer um, fechando o argumento no lugar comum, a luta do bem contra o mal. Portanto, considerado o pai da moderna literatura fantástica.

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A partir dessa obra, Peter jackson resolve assumir a empreitada de imagetizar essa vastidão de riqueza visual, correndo o risco de decepcionar os leitores que tinham imaginado os cenários e personagens a partir de suas  leituras individuais. E com o uso de uma tecnologia de efeitos visuais respeitáveis, para época, saiu a trilogia “O Senhor dos Anéis” em que, muito do que se viu ali, foi realmente fabricado, como as espadas, os elmos e  as armaduras. Somente as construções como Valfenda, Moriá, os castelos e mundos diversos foram efeitos de computação gráfica, como também as criaturas esdrúxulas. E neste período, se usou pela primeira vez a tecnologia de captura de movimento, com a personagem Gollum, interpretado por Andy Serkis. Com um sucesso estrondoso e um retorno vultoso de um investimento inacreditável, Peter Jackson saiu oscarizado dessa empreitada.

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Agora, mais de uma década depois de quando tudo começou, ele volta para narrar imageticamente, a história de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman/Ian Holm) que é anterior, na literatura, a trilogia do “O Senhor dos Anéis”. É a saga do Hobbit, tio de Frodo, e o seu encontro com um dos nove anéis. E qual cinéfilo alucinado não prestaria atenção para ver se há falhas nos ganchos para história do Frodo? Pois é, não há! Está tudo amarradinho, fechadinho e embalado para presente. A saga “O Hobbit” em suas três partes: “A jornada inesperada”, “A desolação de Smaug” e “A batalha dos cinco exércitos” fecha certinho e ainda deixa ganchos pertinentes para a “Sociedade do Anel” (primeira parte da trilogia “O Senhor dos Anéis”). Isso tudo sem se perder no tema central de cada uma das partes e costurando com a premissa maior da trilogia do Hobbit – o valor  e a importância das coisas pequenas.

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A batalha dos cinco exércitos, para quem leu o livro é um primor de detalhes, para quem não leu é uma parte quase sem história, isso porque a detenção da atenção está na batalha entre dos exércitos de orcs, de elfos, de humanos e de gigantes contra o dos anões. Mas a costura é a ambição e  a ganância. Se em “O senhor dos Anéis” a sanha era pelo poder, em “O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos” é a cobiça, a usura, o peso e a medida dos valores morais e existenciais, lealdade, amizade, fraternidade e a noção de coletividade que conduz a trama. O filme é uma mistura competente entre os embates físicos, psicológicos e morais. Em relação aos embates físicos a reconstituição perfeita de formação de combates medievais  como as falanges gregas, o uso de armas brancas: clava, lança , machado, arco e flecha, armas de arremesso, manguais e martelos. A batalha dos cinco exércitos foi um show do “modus operandis” de uma epóca em que as muralhas protegiam as cidades e as armas de fogo eram flechas embebidas em substâncias inflamáveis. Lembra a gloriosa batalha  de “Tróia” (2004) de Wolfgang Petersen.

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Essas grandiosidades do filme adaptado de Peter Jackson, sejam históricas e de competência na transposição da história,  sejam orçamentárias, de marketing, de criação ou de uso de CGI é que fazem dele um chamariz de público. A exibição em tela IMAX  3D é um assombro para quem curte filmes nesse estilo. Isso sem contar que o enredo ainda tem um humor fino. Que todos nós sabemos que a indústria cinematográfica é gigantesca, que um filme emprega milhares de pessoas e que sem elas nada disso aconteceria, tudo bem! Mas, a césar o que é césar, a direção e a roteirização se não for competente ao que se propõe, acabou-se o que era doce. E nisso, a fidedignidade à obra literária é louvável, Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson e Guilhermo del Toro, de “Labirinto do Fauno” (2006), no qual foi roteirista e diretor, e “Hellboy” I e II ( da mesma forma), foram até onde Tolkien deixou. Já Peter Jackson, que além de ter dirigido a trilogia de “O Senhor dos Anéis”, sendo oscarizado por tal e indicado ao mesmo prêmio por “Distrito 9” (2009), foi um cicerone, acerca do “Q” de emoção que a película tinha que ter para contar a história com propriedade. Para fechar a tampa das tecnicalidades, a fotografia de Andrew Lesnie de “Planeta dos macacos: a Origem” e parceiro antigo de Peter Jackson, na trilogia dos anéis, fez bonito, mesmo sabendo que muito dali é CGI. E, finalizando a trilha sonora de Howard Shore, detentor de três Óscares, que também fez parte da trilogia dos anéis, e foi responsável pela trilha de obras  como “A invenção de Hugo Cabret” (2011) e “O aviador” (2004), pelo qual ganhou o Globo de Ouro da categoria, foi espetacular nas composições que enlevarão as emoções dos espectadores às alturas, na batalha final. E ainda tem a grata benesse dos céus de contar com as participações dos dois mais velhos integrantes da trupe do ‘Senhor dos Aneis” Ian Mckellen (Mithrandir/Gandalf) (75) e Christopher Lee  (Saruman) (92) quase duas décadas depois do primeiro projeto.

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“O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos” é um épico que não está na história real em momento algum, e é fruto da mais espetacular atividade de criatividade que o homem é capaz de produzir através do uso da imaginação. É um feito estupendo tornar “quase real”, através do cinema, o que o velho Tolkien criou há mais de sessenta anos. Em suma, é um filme que não dá para ver isolado, ele é a parte final de uma trilogia, que é parte de uma obra maior. E não é só para quem leu, é para todo mundo que é fã do estilo. A diferença vai ficar por conta da forma com a qual vai se  ver a obra. Quem leu verá uma coisa, quem não leu verá outra. Por mais que não seja condição sine qua non para ser fã e entender o filme, não dá para esquecer que vem de um livro, e que parte de seus detalhes, vem da fidedignidade à obra (que foi o viés do projeto desde “senhor dos Anéis”).

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O filme é, simplesmente, uma ode a inventividade humana, à capacidade de abordarmos um assunto, em suas várias camadas  ao mesmo tempo,  e uma reverência a possibilidade de imagetizar subjetividades de pequenas coisas, dentro de um contexto caótico, através do olhar. Da batalha grandiosa ao olhar de perscrutação da verdade de Bilbo, dos Orcs que destilavam ódio às expressões bipolares de Gollum, dos gigantes que derrubavam muralhas à cobiça desenhada no semblante de Thorin (Richard Armitage), tudo pensado e posto em imagem milimetricamente. E para não dizer que não lhe falei de flores, o roteiro ainda arredonda a fala de Gandalf, no momento final, à uma das primeiras falas dele na primeira parte “A jornada inesperada”, em que disse: “eu descobri que são as coisas pequenas, os feitos diários das pessoas comuns que mantém o mal afastado. Simples atos de bondade e amor”.  E deus mora nos detalhes, simples assim.

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Blockbuster?! É. Mas também é uma adaptação da literatura para um público muito maior do que os livros puderam alcançar. Visto desse lugar fica até mais bonito, não é não?!

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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