A Rainha Diaba

Por | 2015-07-08T05:37:27-03:00 8 de julho de 2015|Resenha cinematográfica|0 Comentários

A Rainha Diaba (Drama); Elenco: Milton Gonçalves, Nelson Xavier, Stepan Nercessian, Odete Lara; Diretor: Antônio Carlos Fontoura; Brasil, 1974. 35 mm, 100Min. #Mostradecinemadeouropreto(CINEOP)2015.

Filme de abertura da 10ª Mostra de cinema de Ouro Preto e pertencente ao eixo preservação de memória, “Rainha Diaba” de Antônio Carlos Fontoura, tem como ator principal Milton Gonçalves  e conta uma história do cotidiano do submundo do crime,  e como senão bastasse tremenda transgressão nos anos de chumbo, 1974, ainda aborda transversalmente a homossexualidade.

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A história não poderia ser mais ousada. A rainha diaba (Milton Gonçalves) é um gay, negro e pobre que comanda o narcotráfico de uma certa região e paralelamente a prostituição local. Quando se vê  na iminência de ter um de seus homens – o preferido –  preso pela polícia,  mancomuna uma armação que levaria Bereco (Stepan Nercessian)  a ser o bode expiatório. Revoltados com seu autoritarismo, os membros da quadrilha aceitam o comando em paralelo de Catitu (Nelson Xavier), que vê nisso uma oportunidade de ascender ao poder e tirar Rainha Diaba da jogada. O longa, nos aspectos do machismo na relação homem/mulher, lembra “Navalha na Carne” (1974) de Neville de Almeida e em relação à sanha pelo poder dentro de quadrilhas “Estômago” (2007) de Marcos Jorge.

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“Rainha Diaba” se constitui um marco de preservação do cinema nacional não somente pela temática – submundo, tráfico de drogas e prostituição – mas pelo momento político vivido pelo Brasil – a ditadura militar.  Também pela posição de um negro como protagonista no cinema, o que não era comum. Além da inserção da homossexualidade, que não era tão discutida, e a personagem, nesse contexto de abordagem, exercer uma posição de mando num território eminentemente masculino, machista e violento.  O longa foi ovacionado com os prêmios de melhor ator para Milton Gonçalves, Melhor fotografia para José Medeiros no Festival de Brasília de 1975 e  melhor figurino para Ângelo Aquino pela Associação de Críticos de arte de São Paulo. O responsável pela história foi o roteirista Plínio Marcos de “Beto Rockfeller” (1968) e “Navalha na Carne” (1974)

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Como grande homenageado da Mostra de Cinema de Ouro Preto Milton Gonçalves tem no currículo, além de melhor ator por “A Rainha Diaba”, melhor ator coadjuvante por “Carandiru” (2003) no Festival de Cartagena, 2 Kikitos de ouro do Festival de Gramado por “Filhos do Vento” (2004) e “Barra Pesada” (1997), além do troféu Oscarito que recebeu em 2003.

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“Rainha Diaba” é uma produção nacional ousada e atual, portanto pertence à memória do cinema nacional e está disponível na íntegra em plataformas online, digitais e multimídias, incluindo edições de colecionares. Vale a pena passear pelas produções nacionais de outrora e verificar o quanto os temas são desafiadores e visionários, e atestar também o quanto melhoramos em qualidade técnica de uns anos para cá. Viva o cinema nacional!

  • Filme de Abertura da Mostra de Cinema de Cinema de Ouro Preto 2015.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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