A Torre Negra

Por | 2017-09-06T16:00:52-03:00 6 de setembro de 2017|Resenha cinematográfica|0 Comentários

A Torre Negra (The Dark Tower) (Ação/Aventura/Fantasia); Elenco: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor; Direção: Nikolaj Arcel; USA, 2017. 93 Min.

Tem um adágio no mundo cinematográfico que diz que se pode fazer um filme ruim com um roteiro bom, mas não se pode fazer um filme bom com um roteiro ruim. O que dizer, então, de um filme baseado numa obra-prima da literatura popular se transformar num roteiro ruim e, consequentemente, num filme pior ainda. Que, possivelmente, deixará os leitores da obra em choque, por conta de tamanha disparidade entre um e outro. Esse é o painel de “A Torre Negra”. E não é só isso! A equipe do filme ruim …. é excelente. O que deu errado? É o que vamos tentar conjecturar nessa resenha.

A obra literária homônima de autoria de Stephen King é considerado o seu melhor trabalho. Inspirado na saga de Tolkien “O Senhor dos Anéis” e misturado ao gênero Western, especificamente, o estilo spaghetti de Sergio Leone “A Torre Negra” é uma saga de busca, cheia de magia e ancorada em subjetividades. Ou seja, altamente abstrata. A história se passa entre conversas, viagens no tempo e por dimensões diferentes com muita fantasia que mistura flashes de memória, realidade e delírio. Tudo o que não vemos na versão cinematográfica. A obra literária se desenha em sete belíssimos e ricos volumes, com uma linguagem coloquial bem próxima do leitor comum e que, portanto, o conquista e prende, independente da história. Esta, por sua vez, com suas nuances e profundidade exige atenção. Ambos – linguajar e história –  são de uma cola magnífica no âmbito popular que explica o sucesso de King.

O primeiro volume se detém no pistoleiro Roland Deschaim e suas nuances de personalidade. Ali, não interessa quem foi Roland, o que fez, seu rastro, mas o que ele é dentro do contexto da história e o que quer. O menino Jake é quase uma assombração que Roland tem o instinto de proteger e por quem desenvolve um afeto resistente. No Volume II – A Escolha dos Três –  o viés da história aparece de vez e se apresenta como uma saga psicológica, espiritual e mágica que não tem chão. Mas, que faz sentido e, por isso, magnífica. E por aí vai, se fixando em cada personagem a cada volume desenvolvendo um painel intrincado e genial de salvação do mundo, de dentro para fora, até o volume 7.

O que temos na versão cinematográfica não passa do volume I e ainda estabelece chão para a história, ou seja a descaracteriza. Ou seja é uma subestimação da inteligencia do espectador ‘facilitando’ as coisas e tirando toda subjetividade da obra. Manter o viés do livro além de selecionar público, seria muito mais trabalhoso no que diz respeito a transmissão da mensagem em imagens, que não tem um código blindado como a literatura e é passível de vários entendimentos e subentendimentos. Mas a questão é que não seria por falta de capacidade, já que a equipe é competentíssima.

Roland (Idris Elba) in Columbia Pictures’ THE DARK TOWER.

Os roteiristas são Akiva Goldsman oscarizado por “Uma Mente Brilhante” (2001), um super filme que aborda a esquizofrenia de um cientista, e Jeff Pinkner de “Fringe” (2008-2012) e “Lost” (2006-2007), duas séries de TV altamente subjetivas e intrincadas não só por seu conteúdo como por sua abordagem. O produtor foi Ron Howard de “No Coração do Mar” (2015) e tantos outros filmes de valor e peso. A trilha sonora  foi feita por, ninguém menos que,  JunKie LX de “Mad Max: Estrada da Fúria”, uma ópera a céu aberto. A Fotografia e a direção foram dos dinamarqueses Rasmus Videbaek e Nikolj Arcel, respectivamente. Ou seja, não houve o menor interesse em fazer uma versão para o cinema a altura da obra literária. Pelo contrário, aparentemente, a obra literária com seu sucesso e aporte é que foi o chamariz para o filme. Que dentro desse raciocínio pode ser considerado um verdadeiro desastre.

Em suma, “A Torre Negra” é uma decepção cavalar para quem leu a obra-prima de Stephen King e, ainda tem cara de piloto de série de TV. A equipe de produção conseguiu acabar com uma obra literária de sete volumes que levou décadas para ficar pronta em 93 Min. Decepcionante! Agora, para quem não leu os livros é tragável.


 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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