As Sufragistas

Por | 2018-06-17T00:12:24-03:00 25 de dezembro de 2015|Resenha cinematográfica|0 Comentários

As Sufragistas ( Suffragette) (Biografia/Drama/História); Elenco: Carey Milligan, Helena Boham Carter, Brendan Gleeson, Meryl Streep; Direção: Sarah Gravon; Reino Unido, 2015. 106 Min.

Este ano, as mulheres não têm do que reclamar em relação a protagonismo no cinema e  a abordagens de temas concernentes ao mundo feminino. “Mad Max: Estrada da Fúria” lavou alma com a recontextualização ao mundo contemporâneo quando inseriu a Furiosa como heroína; “Star Wars : O Despertar da força“,  estende a força à mulher com um título, no mínimo inteligente; “Já Estou Com Saudades” desmistifica o armistício entre as mulheres e aborda o câncer de mama de uma forma clara, aberta e bastante humana e agora vem “As sufragistas” e fecha a tampa de 2015 com uma abordagem política de luta pelos direitos da mulher ao sufrágio (voto).

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O filme de Sarah Gravon é de cunho histórico, logo, um passeio pelo contexto escolhido, para entender melhor a abordagem da roteirista Abi Morgan é uma boa pedida. O movimento feminino do direito ao voto foi um dos primeiros passos na luta feminista por direitos iguais na pós-revolução industrial com o surgimento da Fundação União Nacional pelo Sufrágio Feminino.  Na Inglaterra do início do século XX, uma organização mais radical surgia, era a WSPU – Women Social and Political Union/ União Social e Política da Mulher – liderada por Emmeline Pankhurst (1858-1928). Esse braço do movimento era bem mais radical e visava mais que o voto, pretendia revelar o sexismo institucional da sociedade britânica. Devido a lei “Cat and Mouse” as mulheres, neste contexto, eram presas por trivialidades e submetidas a tratamento brutal. A liderança de Pankhurst era contundente e culminou em situações de confrontos sérias e dentre elas na morte de Emily Davison (1872-1913).  “As Sufragistas” traz para telona essa luta na Inglaterra do início do século XX. Num recorte de tempo bastante limitado – o período anterior à primeira Guerra Mundial – e que tem como ápice o surgimento da primeira mártir do movimento. Como os fatos são históricos e reais, não se trata de spoilers, pois já são conhecidos e dados. A questão é focar na forma com a qual Sarah Gravon e a roteirista Abi Morgan abordaram todo esse contexto da história do feminismo na Inglaterra.

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O longa faz uma costura deste contexto histórico através da vida familiar de Maud Watts (Carie Mulligan), mulher casada com Sonny (Ben Whishaw), mãe de George (Adam Michael Dodd) e que trabalha numa lavanderia desde criança, para personificar o cotidiano de uma maioria de mulheres da época. A farmaceutica Edith (Helena Boham Carter), Violet (Anne-Marie Duff), Emily Davison (Natalie Press) e Emmeline Pankhurst (Meryl Steep), fazem a ponte com a política. E a partir desse cotidiano na lavanderia, com injustiças trabalhistas, assédios e autoritarismos na família, as mulheres fazem um movimento de reivindicações por direitos iguais, cujo mote maior é o voto. A abordagem é a das perdas dessas mulheres em relação a emprego, família, amigos e liberdade. A violência do sistema legal e até onde aquelas mulheres estavam dispostas a ir para alcançar seus objetivos, terminando em 1913 na narrativa fílmica. Ou, seja, um recorte de um ano na vida política e legislativa da Londres do início do século XX. E prosseguindo com relatos dos desfechos ao final.

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Emily Wilding Davison/ Natalie Press

O longa vale o empreendimento das meninas, mas a parte mais importante na militância para o alcance do direito ao voto feminino foi vivido durante a Primeira Guerra Mundial, quando as mulheres substituíram os homens em seus postos de trabalho para que fossem para a guerra. E este período não foi contemplado. Ok, seria outro filme. Então, analisando o que foi abordado, consideramos que “As Sufragistas” é uma jornada pelos aviltes sofridos pelas mulheres que lutaram pelo voto feminino na Inglaterra e uma radiografia das estratagemas de Emmeline Pankhurst, que também vivia presa por trivialidades, como as demais. Mesmo protegida pelo movimento, o que é também  alvo de questionamentos e rachas, como o foi à época. Em suma, o filme é político.

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Meryl Streep como Emmeline Pankhurst

O destaque é para  elenco de peso, com atuações espetaculares, vide Carie Mulligam que ganhou o prêmio de melhor atriz no Women Film Critics Circle Awards, e Brendan Gleeson que ganhou o prêmio de melhor ator no British Independent Film Awards pelo papel do inspetor Arthur Steed. A direção de arte e o figurino estão divinos e a trilha sonora de Alexandre Desplat, o oscarizado por “O Grande Hotel Budapeste” (2014), faz a conexão entre emocional,  a História e o cotidiano atual, numa elipse analógica de tempo espetacular. “As Sufragistas” levou os prêmios de Melhor Imagem de Mulher em Filmes e o Womens Work’s no Women Film Critics Awards e o prêmio do público no Mill Valley Film Festival.

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O filme da Sarah Gravron, de “Brick Lane” (2007), em parceira com a roteirista de “Shame” (2011) é um filme histórico, marcadamente político e que tem um recorte muito específico:o preço que aquelas mulheres pagaram por reivindicar os seus direitos, numa abordagem pessoal, com uma pegada inteligente, crítica e  de afeto. “As Sufragistas” nos remete ao filme de TV “Anjos Rebedes” (2004) de Katja Von Garnier com Anjelica Huston e Hilary Swank que tem o mesmo contexto de luta feminina, só que nos Estados Unidos. O filme é para os que admiram as mulheres,  sua luta, e a mistura de graça e veemência com a  qual o fazem.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Nenhum Comentário.

  1. Vitória Lima 27 de dezembro de 2015 em 23:17 - Responder

    Tudo que conseguimos, até hoje,foi na luta. “Neve surrender! Never give up the fight!

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