Ben-Hur (Aventura/Drama/História); Elenco: Jack Huston, Toby Kebell, Rodrigo Santoro, Pilou Asbaek, Morgan Freeman, Nazanin Boniadi, Direção: Timur Bekmambetov; USA, 2016. 124 Min.
A adaptação do romance de Lew Wallace (1827-1905) intitulado Ben-Hur:A Tale of the Christ está na sua terceira versão cinematográfica. E nesta, o viés da narrativa é político. O contexto é a ascensão do Império Romano e as argumentações são logísticas e ideológicas. E nela percebemos que, para época em que a obra foi escrita, o contexto histórico que ela abrange e o de hoje, mudamos muito pouco. “Ben-Hur” do diretor russo Timur Bekmambetov é uma odisséia misturada à filosofia cristã, História e tecnologia cinematográfica.
A história de Ben-hur é um romance original misturado a aspectos históricos e espirituais e teve três adaptações para o cinema. A de 1925, dirigida por Fred Niblo e estrelada por Ramon Navarro, mudo e colorizado mais tarde. A de 1959, mais conhecida e consagrada com onze Oscars, dirigida por William Wyler e estrelado por Charlton Heston. Os tempos eram outros, no que diz respeito a forma de abordagem – mais amena, romântica com menos camadas de assuntos e menor velocidade – e a grandiosidade na produção (todos os cenários eram construídos, a quantidade de figurantes era imensa e os animais eram reais). A chamada super-produção, de fato, era gigantesca, hoje, nem tanto. Perdemos em grandiosidade, mas ganhamos em camadas sobrepostas nas histórias e na velocidade com a qual a história é contada. No caso de “Ben-Hur” a coluna vertebral é a política e a partir dela se ramificam na história da família de Judah Ben-Hur, o romance entre ele e Esther (Nazanin Boniadi); atravessam, também, a história, os feitos de Jesus de Nazaré (Rodrigo Santoro), sua via crucis e crucificação – assim como em “Ressurreição” em que a história é do centurião Clavius (Joseph Fiennes) mas atravessado à sua história tem-se a de Jesus.
No enredo já conhecido, Judah Ben-Hur (Jack Huston) é um príncipe judeu estabelecido em Jerusalém durante a ascensão do Império Romano. Messala Severus (Toby Kebell) é seu irmão adotivo, que percebendo a forma diferenciada com a qual é tratado, segue seu rumo e tenta se estabelecer e voltar respeitado. E isso acontece durante a tomada de Jerusalém, Messala se apresenta à família como soldado romano, próximo a Pôncio Pilatos (Pilou Asbaek). Entre eles (Messala e Ben-hur) estavam os zelotes – rebeldes que defendiam Jerusalém – os quais Ben-Hur protegia; e Pilatos o político representante de Roma que impõe o terror. Ou seja, os meio-irmãos eram inimigos ideológicos. Não tardou para que Ben-Hur fosse preso e feito escravo de galés por cinco anos. Até que encontra Ilderim (Morgan Freeman) um beduíno que o cuida, torna-se seu treinador em corrida de bigas, conselheiro e amigo, numa saga de vingança e ao mesmo tempo de conquista de liberdade.
A abordagem do longa-metragem de Timur Bekmanbetov (Guardiões da Noite/2004; e Guardiões do Dia/2006) não é romântica. Roteirizado por John Ridley (12 Anos de Escravidão/2013) e Keith Clarke (Caminho de Liberdade/2010) a história é um mosaico de ideias e ideais. A batalha é ideológica, as armas são lógicas diferenciadas postas para se digladiarem, e isto está presente nos diálogos. A analogia entre a crueldade humana e o amor; entre o judeu e o romano; entre o filho natural e o filho adotivo estão presente todo o tempo nos diálogos e nas metáforas. A oposição das forças políticas dão o tom do roteiro: a entrada de Pilatos em Jerusalém X a entrada de Jesus em Jerusalém. (Jesus é um personagem político). Quem for ao cinema esperando uma história de amor entre um homem e uma mulher vai assistir a uma história de amor ao próximo e tudo isso muito bem amarrado sem entrar em clichês religiosos.
Os destaques do filme vão para a trilha sonora de Marco Beltrami, que também está em “Aguas Rasas” (2016); para o figurino magnífico de Varvara Avdyushko, para a atuação do nosso Rodrigo Santoro interpretando Jesus e a edição da trinca respeitável Dody Dorn de “Amnésia” (2000), Richard Francis-Bruce de “Seven” (1995) – ambos indicados ao Oscar – e Bob Murawski, oscarizado por “Guerra ao Terror” (2008). Em suma “Ben-Hur” é show de edição acima de tudo. O longa do Russo Timur está valendo para quem assistiu a versão/as versões anteriores e para os novatos de plantão.
- Atualizado em 24/08/2016
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