Birdman ou A inesperada virtude da ignorância (Birdman ). (Comedia/Drama); Elenco: Michael Keaton, Edward Northon, Emma Stone, Naomi Watts; Diretor: Alejandro Gonzaléz Iñarritu. USA/Canadá, 2014. 119 Min.
“Birdman” de Alejandro Gonzaléz Iñarritu é uma das vedetes das indicações ao Oscar 2015, recebeu nove indicações. Globo de Ouro foram quatro, abocanhados em categorias principais: melhor ator para Michael Keaton, melhor roteiro, melhor diretor e melhor filme de comédia ou musical. E lá se vão cento e dezenove prêmios ganhos ao total, e cento e quarenta e sete indicações mundo afora. Mas o que faz de um filme, um dos melhores, ou o melhor ? A seleção já é uma injustiça. Quantos bons ficaram de fora? Fazer o quê. O cerne da questão é que dentre os selecionados vai ter que sair um. E preferencialmente, que abarque com “quase perfeição” (conceito ao bel-prazer de quem julga) o maior número de aspectos pertinentes a uma obra cinematográfica.
Pois bem, os aspectos que o compõem é que são seu ponto forte, mesmo extrapolando o espaço circunscrito a uma obra cinematográfica. Ou talvez, esse extrapolar é que seja o diferencial. O filme de Iñarritu é uma mistura de linguagens, uma babel de formas de expressão que convergem para um ponto, a reflexão sobre a questão: “Sobre o que falamos quando falamos de amor? O viés é filosófico existencial e versa sobre o amor absoluto, misturado à literatura, tanto as tragédias Shakespearianas, quanto à literatura fantástica, da qual um dos bastiões é Gabriel Garcia Marques. E como se não bastasse, o teatro está presente – a encenação da encenação; a música – a bateria de Brian Blade – Rachmaninoff, Maurice Ravel, Tchaikovsky, Gustav Mahler e a ópera. A referência ao “Fantasma da Ópera” , aquele ser subterrâneo que sorve tudo o que é sublime, é bem presente.
A mistura de realidade e fantasia, alicerçada por todas essas referências, fazem da história de Riggan (Michael Keaton), um homem que procura o amor, enquanto luta consigo mesmo, cria uma filha, administra ex-mulher, namorada e uma produção teatral, tudo acontecendo ao mesmo tempo, uma ópera cotidiana. Preencher com tamanha erudição esses aspectos pequenos do dia-a-dia, dentro de um roteiro que versa sobre a subjetividade do amor, explica o Globo de Ouro de melhor roteiro.
O fio condutor inclui citações de Roland Barthes, Gustave Flaubert e versa, nas entrelinhas sobre a visão que o indivíduo tem de si, a visão que o outro tem dele e a visão que ele acha que o outro têm dele. A linha de raciocínio é a de Mikhail Bakthin na construção de um personagem. O chão da história é realidade X fantasia, “verdade” X representação. O olhar é uma variante importante em “Birdman”. O olhar da crítica de arte é execrado, o olhar de Riggin é questionado, o olhar do público é usado, abusado, desprezado e chacoteado, em suas escolhas fúteis e bizarras. Verdade ou consequência?…
Iñarritu não economiza, não deixa barato. É um filme erudito, high level e provocador em todos os sentidos, na abordagem, na filmagem (plano-sequência), na trilha sonora, nas referências, no liquidificador que é o roteiro, no argumento e nas atuações. Essas são de tirar o chapéu, Michael Keaton, Edward Northon e Emma Stone estão bárbaros e impecáveis.
Em suma, o filme de Alejandro Gonzaléz Iñarritu seleciona público, exige que o espectador tenha uma bagagem cultural que alcance os aspectos abarcados, e é para se assistir mais de uma vez. Quanto à metáfora Birdman? (!!!)…Ah! Isso fica por sua conta, caro leitor, e é uma boa brincadeira. Numa palavra? Magnífico!
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