É Tudo verdade – Baseado em um filme inacabado de Orson Welles ( It’s All True – Based on an Unfinished film by Orson Welles). (Documentário); Elenco: Orson Welles, Carmen Miranda, Grande Otello, Peri Ribeiro; Direção: Bill Krohn, Myron Meisel. Orson Welles,Richard Wilson e Norman Foster. EUA/França, 1993. 89 Min. #festivalinterncionaldedocumentariosÉtudoverdade2015.
A expressão que inspirou o nome do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade veio do filme inacabado de Orson Welles “It’s All True”, que tem, no mínimo, uma história inusitada.
Encomendado aos Estúdios RKO durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como parte de uma política de “boa vizinhança” e num momento em que Getúlio Vargas – então Presidente do Brasil – se aproximava dos países fascistas da Europa, It’s All True” seria um filme sobre três histórias latino americanas. A primeira “My Friend Bonito” dirigida por Normam Foster e supervisionada por Welles, no México (1941), a segunda “Carnaval” sobre a festa popular carioca – que Welles subverteria para a história do Samba – e a terceira sobre os Jangadeiros – também decidida por Welles ao acaso e que se chamaria “Four Mens on a Raft”. A obra deveria ser uma produção Hollywoodiana com todos os adjetivos e características que lhes eram comuns. Mas mandaram Orson Welles , o aclamado diretor de “Cidadão Kane”, um indivíduo politizado, mestre em fazer conexões entre aspectos viscerais e renovação de linguagem que, assim que põe os pés na cidade se depara com uma recepção aos quatro jangadeiros cearenses que terminavam sua saga de protesto pelos direitos trabalhistas dos pescadores. Vindos de uma jornada de navegação do Ceára ao Rio de Janeiro pela costa do Brasil, estavam sendo aguardados até por Getúlio Vargas para uma audiência. Welles se encantou com a história. Em seguida foi conhecer o carnaval e teve outro baque ao ouvir o samba. E decidiu que faria uma busca pelas origens daquela música contagiante e registraria o feito dos jangadeiros numa reconstituição romântica.
O filme que tinha o objetivo de entretenimento, divulgação da cultura brasileira e aproximação cultural entre Brasil e EUA acabou se tornando uma saga política e cultural no melhor estilo “Einsensteiniano”. Welles foi para o ceará e reconstituiu a saga dos jangadeiros, mostrando as cidades do litoral brasileiro, Pernambuco, Bahia etc… adicionando um romance fictício à aventura e registrando o trabalhos dos pescadores. Quando foi filmar o carnaval, os executivos da RKO foram trocados e os recursos findaram. Como Welles tinha sido contratado para filmar o carnaval e tinha mais registros de Jangadeiros do que de carnaval, foi acusado de mau uso dos recursos, deposto de suas funções, teve seu material confiscado e passou por uma fase profissional difícil.
Em 1985 Fred Chandler, diretor da Paramount, descobriu 140.000 pés de material filmado por Orson Welles no Brasil, e em parceria com os diretores Richard Wilson, Bill Krohn e Myron Meisel expandiram o projeto para o documentário do documentário inacabado. Lançado em 1993, conta com depoimentos do próprio Welles, de jornalistas, de amigos pessoais, colegas de trabalho, além dos brasileiros: Peri Ribeiro, Grande Otello e um áudio de Carmen Miranda apresentando os instrumentos de uma bateria de escola de samba para Welles. Uma relíquia!
O documentário é um apanhado de pequenos rastros deixados para trás ao longo desses mais de 70 anos, de tudo o que se refere ao projeto do documentário original. Com destaque para o relato do próprio Welles sobre o motivo pelo qual não terminou o Doc,(1943) no melhor estilo Boris Karloff. E outro de 1973, este em tom de desabafo, dizendo jamais ter se recuperado do que disseram a seu respeito naquela época.
“É Tudo Verdade – Baseado em um filme inacabado de Orson Welles” se constitui um instrumento de manutenção de memória, e potencializa o documentário original como um registro histórico de um tempo, de um contexto, de uma cultura e de uma mentalidade. A obra dessa trinca de diretores é uma pérola que assevera a importância documental do cinema.
Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade – Mostra Welles 100.
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