Interestelar

Por | 2018-12-23T04:14:56-03:00 7 de novembro de 2014|Resenha cinematográfica|0 Comentários

Interestelar (Interstellar). (Aventura/Ficção-cinetífica); Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain; Diretor: Christopher Nolan; USA/UK, 2014. 169 Min.

Num futuro não tão distante num planeta em agonia,  heróis  se aventuram em busca de um lugar que possa abrigar vida humana. Com esse argumento Jonathan e Christopher Nolan montam o roteiro que deu origem a um filme intrincado, difícil, com misturas de premissas científicas,  filosóficas e antropológicas em alta tecnologia IMAX (preferência de Nolan). O filme é uma viagem para o exterior do nosso mundo e para o nosso interior ao mesmo tempo.

tKPfxlAE tempo é a coluna vertebral da história, uma das mais magistrais invenções humanas. Arrumamos os acontecimentos, sequenciando-os em antes e depois  para facilitar o entendimento. E é  com essa variante que Christopher Nolan Brinca em “Interestelar”. Só para comparar e termos noção da dificuldade, em “Lost” tivemos uma amostra do que seria a explosão do tempo, com todos os tempos (presente/passado/futuro) acontecendo concomitantemente. Damon Lindelof e J.J. Abraham foram chamados de loucos e que não tinham argumentos e ficavam inventando para manter audiência. Em “O Iluminado” de Kubrick  (1980) a confusão com looping reencarnatório foi grande e muito pouco se cogitou a física quântica e Kubrick tinha cabedal para tanto e ciência em questão já tinha aproximadamente uns quarenta anos de estudos. Pois bem, em “Interestelar” trabalha-se a mesma premissa, com o adendo de que, além de presente, passado e futuro estarem no mesmo espaçotempo, ainda insere-se a relatividade de tempo de lugares diferentes. A explosão do tempo, a quebra e ruptura do presente/passado/futuro dentro do conceito que nós criamos e as multirealidades da física quântica são uma realidade em “Interstellar”. Nolan não só apresenta imageticamente a ruptura do tempo como a relatividade( o tempo de quebra de uma onda em outro espaçotempo), as diferenças no envelhecimento em presença de oxigênio e na ausência dele, tudo meticulosamente pensado. Além de trabalhar os conceitos tradicionais da física: gravidade, atmosferas como unidade de medida, vácuo etc… A fisica quântica é o chão que ancora toda o arcabouço de sustentação do enredo.

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Tendo como referencial as ideias do físico norte-americano Kip Thorne  especialista em ondas gravitacionais,  autor do livro Gravitação e premiado com a  medalha Albert Einstein e que foi consultor oficial do filme o tempo todo. Nolan nos premiou com uma inversão de raciocínio extenuante para entendermos as variações temporais. Nenhum trabalho cognitivo que não tenhamos feito em “Amnésia” (2000) e “A origem” (2010). As inspirações e influências de Nolan para “Interestelar”, segundo ele mesmo, foram: “2001 – uma odisseia no espaço” (1968); “Star Wars”; “Blade Runner” (1982); “Alien”(1979) dentre outros. Além do objetivo de incentivar novas missões espaciais tripuladas…Olha o  poder do cinema aí, gente!!

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 Se Kubrick com “2001 – uma odisséia no espaço” conta a história da humanidade e desse  novo homem que surge, que somos nós. Nolan com “Interestelar” conta a história da transcendência desse homem, do ir além. E não esquece da emoção. Insere a poesia “Do not gentle into that good night” do poeta galês Dylan Thomas, que serviu de inspiração e foi citada em inúmeros eventos artísticos (filmes, exposições de artes plásticas, peças de teatro e afins). Enfatiza esse aspecto da personalidade humana e o eleva a característica-mor dos seres humanos  para seres de emoção, numa semelhança com a cena de “Gravidade” em que a astronauta Ryan Stone (Sandra Bullock) se emociona e encontra forças, ao ouvir o som perdido no espaço do  latido de cachorro que a remete ao que era mais humano, a casa, o aconchego, o afeto e a emoção.

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Em relação aos aspectos técnicos é um show à parte, estrelado pelo oscarizado Matthew McConaughey (Cooper) de “Clube de compras Dallas”, Anne Hathaway (Amelia)  de “Os miseráveis” e Jessica Chastain (Murphy) de “A hora mais escura”. Tem na Trilha sonora original Hans Zimmer, como sempre, o fiel escudeiro. E as  filmagens foram feitas em 35mm combinado com a tecnologia IMAX. A computação gráfica entrou como peça fundamental e  possibilitou uma fotografia/cinematografia sem igual de Hoyte Van Hoytema. E como “família unida jamais será vencida” o irmão como roteirista e a companheira Emma Thomas como produtora fecharam a tampa de mais uma obra muito bem feita e elaborada com cuidado cirúrgico.  As locações foram entre o Iceland , Canadá e  Califórnia trazendo paisagens inusitadas.

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Em suma, o filme de Christopher Nolan seleciona público. É de fácil entendimento para quem tem as redes de conhecimento científico, para quem navega pela seara da física. Mas fazendo um esforço, se informando e vendo mais de uma vez dá para um pobre mortal interessado beber da fonte de conhecimentos que está disponível na película. Como tudo tem seu lado simples,  o lugar comum preconiza que a definição do ser humano evoluído é para além do conceito de terráqueo. O que nos caracteriza e nos define não é nosso habitat, é a emoção, mas especificamente, o amor. Mesmo depois de habitarmos outros mundos, deixarmos de ser terráqueos e passarmos a interestelares a procura continua, aquela que sempre houve e haverá, a do amor. O saciar das emoções é eterno e transcende a própria evolução do conhecimento humano. Estupendo!

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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