Transcendence – A revolução. ( Transcendence ). (drama/mistério/ficção científica); Elenco: Johnny Depp, Rebecca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany. Diretor: Wally Pfister. UK/China/USA, 2014. 119 Min.
Ele está de volta. Johnny Depp, que já deu vida a tantos personagens inesquecíveis da telona, como Edward de “Edward Mãos de Tesoura”(1990) e o sarcástico Jack Sparrow de “Piratas do Caribe” (2003/2006/2007), para falar dos mais fáceis de lembrar, dessa vez encarna Dr. Will Caster, um cientista renomado em inteligência artificial. Menos exposto e mais contido num personagem em que, o que muito se vê é o rosto.
Dirigido por Wally Pfister, conhecido pela direção de fotografia dos filmes do Christopher Nolan, “Batman – o cavalheiro das trevas” (2008) e “Batman – o cavalheiro ressurge” (2012), e ganhador do Oscar 2011 de melhor direção de fotografia por “A origem” e roteirizado por Jack Paglen, o mesmo de “Battlestar Galáctica” (no original) de Bryan Singer. “Transcendence – a revolução” tem como personagem principal a possibilidade da imortalidade do homem e a perfeição da raça humana, ou seja, o fim da humanidade. Trata-se de uma ficção científica que nos leva de H.G. Wells, pela literatura do século XIX , adentra o portal da imagem e movimento, que é o cinema, e nos conduz ao infinito e além.
O enredo é um pedaço da vida do Dr. Will Caster (Johnny Depp) e sua mulher Drª Evelyn (Rebecca Hall), também conhecida por “Vicky Cristina Barcelona” (2008) de Woody Allen, dois pesquisadores famosos pelo trabalho de desenvolvimento de tecnologia de armazenamento de conhecimento. O que incluiria a possibilidade de fazer um “upload” de um indivíduo, suas emoções e lembranças. A bola da vez acaba sendo o próprio pesquisador que sofre um atentado, por parte de um grupo de ativistas contra o desenvolvimento tecnológico a qualquer preço. E este ínterim é o espaço de tempo do desenvolvimento da história que envolve as teorias sobre tecnologia biomecatrônica e de células-tronco, também muita computação gráfica e efeitos especiais, sem falar numa trilha sonora composta por Michael Danna, o mesmo de “Capote” (no original) de Bennett Miller (2005), e “Pequena Miss Sunshine” de Jonathan Dayton e Valerie Faris (2006) além de ganhador do Oscar 2013 de melhor composição original com “As aventuras de PI” (2012) de Ang Lee.
Mas no que se refere a produção cinematográfica é só isso mesmo. O argumento está mais para filme de aventura e ação do que para explicar ou discutir alguma coisa. Atores de porte respeitável como Morgan Freeman (Joseph) ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante em 2005 e conhecido por “Conduzindo Miss Dayse (1989) de Bruce Beresford, e Paul Bettany (Max) conhecido por “Mestre dos mares (2003) de Peter Weir têm um papel sem brilho, no enredo e na atuação.
Mas se estendermos as possibilidades de reflexões sobre o tema, o que o roteirista, não necessariamente, deveria fazer, as coisas ficam bastante interessantes. Quantos artefatos e ideias que compuseram os filmes de ficção se transformaram em realidade? Será que a ficção científica não é um laboratório de ideias para serem aplicadas no futuro? Essa é uma viagem e tanto. Por isso, este texto não se propõe a ser somente uma crítica cinematográfica e muito menos uma análise, aliás, vamos passar bem longe dela. O que vamos fazer é aproveitar as deixas que a obra nos dá, e pegar o seu gancho de personagem conceitual Deleuziano, para fazer umas conjecturas procedentes. Os filmes são um celeiro de possibilidades, se estivermos dispostos a pensar e fazer conexões.
Partindo de Herbert George Wells, escritor britânico, que nos brindou com seus livros de ficção cientifica no século XIX, temos o registro da curiosidade do ser humano pelo futuro, pelo desenvolvimento de tecnologia e como território de exercício da imaginação, como em “A máquina do tempo” (1895); “O homem invisível” (1897); “A guerra dos mundos” (1898) e o melhor deles, e que se encaixa em nossa proposição “The shape of things to come” (1933) que versa sobre um grupo de cientistas que tentam tomar o controle do mundo. Alguns dos títulos de H.G.Wells foram adaptados para o cinema. E mesmo sem nos darmos conta, desde de que éramos infantes a ficção científica invadia nossas casas com as séries de TV da década de setenta. Quem, hoje na casa dos quarenta, não lembra das séries de Irwin Allen – O mestre dos desastres – “Viagem ao fundo do mar” (1964-1968); “Perdidos no Espaço” (1965-1968); “Terra de Gigantes” (1968-1970). E mais adiante, outras produções que incluíam a própria intervenção da ciência no corpo do homem como: “O Homem de Seis Milhões de Dólares (1974-1976) com Lee Majors; ” Mulher Biônica” (1976-1978) com Linsay Wagner, e ainda, “Robocop” (1987/1990/1993/2014). Mas, outros ainda, preconizavam a intervenção na realidade de todos, através de formas de vida artificial, que seriam uma extensão de nossas capacidades para além do que conseguimos fazer, como o robôt Hall de “2001 – uma odisseia no espaço” (1968) de Stanley Kubrick e David de “AI – Inteligência Artificial” (2001) dirigido por Steven Spielberg, que super dimensionava a nossa capacidade de amar.
E com base nessas obras a ciência, na vida real, tem reinventado a realidade. A cadeira voadora de “Star Wars” já está entre nós, as próteses biônicas , também; e mais recentemente, semana passada, a NASA presenteou os fãs de “Star Trek” usando o designer da nave Interprise como modelo para o protótipo da nave espacial mais rápida que a luz, (Confira). Pois é, me valendo de um ditado popular…. “a vida imita a arte”.
E partindo desse pressuposto, o filme “Transcendence” (no original) tem muito a nos fazer pensar. Versa não só sobre a possibilidade de um grande arquivo artificial de conhecimento, mas também sobre o grande diferencial que o ser humano tem em relação à máquina, “o paradoxo”, nenhuma máquina, por mais perfeita que seja consegue processar e entender as contradições humanas. E a cena simples, mas brilhante, de Paul Bettany e Rebecca Hall falando sobre essa vertente é lindíssima “Somos capazes de amar alguém e odiar o que esse alguém faz, nenhuma máquina jamais será capaz de entender isso” . E apesar de todo o conhecimento, o que nos caracteriza é a imperfeição, a contradição, a incoerência e a dicotomia. Tudo que é perfeito não é humano. Nunca um defeito valeu tanto.
Agora, dando tratos à bola… Já imaginaram um ser humano “uploadado” e uma proposta de transcendência da raça humana, usando seu arcabouço primitivo para uma mais especializada, perfeita e com potencialidades para além da imaginação?! É amigo, é melhor não duvidar, não. Vai que……
Deixar Um Comentário