Verdades e Mentiras

Verdades e Mentiras

Por | 2015-04-14T04:58:38-03:00 14 de abril de 2015|Resenha cinematográfica|0 Comentários

Verdades e mentiras (Verités at Mensonges/ F for Fake). (Documentário); Elenco: Orson Welles, Oja Kodar, Joseph Cotten; Direção: Orson Welles; França/Alemanha Ocidental/ Irã, 1973. 89 Min.#Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade 2015

Uma das celebrações do 20º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade 2015 é o centenário de nascimento de Orson Welles. Ator, escritor, dramaturgo, roteirista, produtor de teatro, cinema e TV e colunista. Com 122 obras filmográficas no currículo, 2 Oscares ( um por “Cidadão Kane” e outro Honorário em 1971) Orson Welles é um dos grandes nomes da história do  cinema. Para celebrar isso, dois filmes do cineasta estão na programação da mostra, um deles é “Verdades e Mentiras”. Um ensaio fílmico sobre a criação de verdades, tendo como coluna vertebral a história de um dos maiores falsificadores de pinturas do século XX, Emyr de Hory.

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Aproveitando-se de um material rodado pelo documentarista francês François Reichenbach e adicionando outro material filmado por ele mesmo, Orson Welles cria uma obra corrosiva que abarca filosofia, religião, psicologia – fisiologia da percepção- e códigos (convenções de ações, atitudes e costumes ), misturando-os e inserindo pontos de vista diferentes, tendo como parâmetro os conceitos de “verdades” e “mentiras”.

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Se em “Cidadão Kane” seu mérito foi os ângulos de câmera (plongée e contra-plongée); a exploração do campo e contra-campo; a narrativa não linear e a montagem (para a época). Em “F for Fake” (no original) o poder da narrativa em primeira pessoa, a estratégia de trazer para a linguagem  imagética o diálogo direto/indireto machadiano (de Machado de Assis), a desconstrução retórica de conceitos como os de verdade e mentira, a criação de realidades paralelas e verdades falsas são a digital da obra. A conversa com o espectador inserindo-o no assunto é o diferencial. No roteiro, Welles, inclui também um “possível” romance de Picasso, sua carreira de cineasta e o episódio de sua transmissão radiofônica, em 1938, em que noticia uma invasão alienígena. O filme conta também, com imagens de Emyr de Hory, Clifford Irving (biógrafo de Emyr ) e de Howard Hughes, além da voz de Peter Bogdanovich. As locações vão de Roma, Paris – com destaque para a catedral de Chartres –  passando por Ibiza, na Espanha e Los Angeles.

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“Verdades e Mentiras” é uma preciosidade, uma viagem na história das mentalidades. Um filme testamento que põe em xeque a autoria da arte e questiona verdades instituídas. Memorável!

#Festival Internacional de Documentários É tudo Verdade – Mostra Homenagens: Welles 100.

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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