Mississipi em Chamas

Mississipi em Chamas

Mississipi em Chamas (Mississipi Burning) (Crime/Drama/História);Elenco: Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances Mcdorman; Direção: Alan Parker; USA, 1988. 128 Min.

Quanto mais distante, no tempo, de uma obra, mais percebemos seu valor e sua importância ou não. Baseado em episódios reais roteirizados por Chris Gerolmo e dirigido por Alan Parker “Mississipi em Chamas” é um filme da década de 80 que faz um recorte da década de 60 estrelado por Gene Hackman e que se ocupa de trabalhar o conceito de culpa. O filme aborda a ação da Klu Klux Klan no sudeste dos Estados Unidos e passeia pelas amarras do racismo desde suas pequenas nunces até sua manifestação mais hedionda.

Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe) são dois agentes do FBI enviados ao Mississipi para investigar a morte de ativistas dos direitos humanos na região no ano de 1964. Rupert é maduro, perspicaz e consegue caminhar nas entrelinhas das questões que encontra no contexto em que tem que atuar. Alan é novato, restrito á códigos, normas e regras ao pé da letra agindo sem perceber as possibilidades de interpretação de suas ações por terceiros e suas consequências. Juntos, cada um a seu modo, iniciam uma investigação que acaba gerando uma guerra com a Ku  Klux Klan e mostra as veias abertas do racismo norte-americano.

Mas, não é só isso. Alan Parker e Chris Gerolmo trabalham com um viés paralelo: quem são os culpados?  Quais são as  responsabilidades de cada um de nós nessa questão. E insere a consciência pesada de Mrs Pell (Frances McDorman) e até um indivíduo que não tinha envolvimento algum com as questões, mas que se pune. E a fala de Alan (Willem Dafoe) sentencia o viés da abordagem de Parker e Gerolmo “Quem não faz nada, também é culpado”.

Alan Parker, indicado ao Oscar por “Expresso da Meia-Noite” (1978) e pelo próprio “Mississipi em Chamas” tem um viés político bastante aguçado e trabalha questões limítrofes. Abordar o episódio ocorrido no Mississipi  foi só uma forma de mostrar a América em guerra consigo mesma  enquanto a Guerra do Vietnã os engolia. O ano de produção do filme foi 1987/1988 – ano eleitoral nos EUA – que elegeu George W. Bush para a presidência daquele país, possivelmente, não foi mera coincidência.

Como destaques no filme temos: Gene Hackman, Willem Dafoe e a fotografia espetacular de Peter Biziou. Gene Hackman dispensa longas apresentações. Californiano da década de 30 e ganhador de dois Oscars (“imperdoáveis”/1992 e “Operação França”/1971) este, hoje, octogenário senhor tem em seu currículo nada mais que uma centena de filmes. E “Mississipi em Chamas” é um dos que sua atuação é referencial. Já Willem Dafoe, no auge da fama à época, por haver sido indicado ao Oscar por “Platoon” (1986) e estrelado o polêmico “A Última Tentação de Cristo” (1988), o ator emprestou seu talento e a sua potencial chamada de público para o filme de Parker. Mas, quem recebeu um Oscar pela obra foi a fotografia de Peter Biziou que também dirigiu a categoria nos filmes “O Show de Truman” (1998) e “A Vida de Brian” (1979).

Em suma, “Mississipi em Chamas” é um filme que consta na história do cinema americano como mais um a colocar o dedo na ferida da América em relação a ignorância e ao desrespeito com as diferenças e os direitos civis. Dirigido por um americano, escrito por um americano estrelado por americanos relatando um episodio real na América, o longa-metragem é um mea-culpa questionador e que vale a pena ter na videoteca de casa.

  • Disponível no Youtube (gratuito e pago) dublado e legendado e  em outras plataformas online

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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