Dedo na Ferida (Documentário); Participações: Maria José Fariñas Dulce, Constantin Costa-Gavras, David Harvey; Direção: Silvio Tendler; Brasil, 2018. 90 Min.
Introdução
Documentarista reconhecido, Silvio Tendler tem em seu currículo vários trabalhos políticos, entre eles: “Jango” (1984); “Memória do Movimento Estudantil” (2007) e; “Tancredo: Uma Travessia” (2010). Com arquivo de imagens de manifestações em diversas partes do mundo e do movimento europeu contra a onda política neoliberalista de retirada de direitos sociais, o documentarista traz para a conversa profissionais das áreas de economia, antropologia, sociologia, ex-ministros e professores para explicar o que é o capitalismo por dentro, sob a ótica do mercado financeiro, e mostra como esses tentáculos atinge a todos nós. O painel é de uma luta de classes silenciosa e sobre como a macro realidade interfere na micro realidade e sobre como a realidade econômica atual não é uma fatalidade e sim um projeto.
O documentário
O formato do documentário é o de uma rede em que estão entrelaçados por nós os aspectos histórico do capitalismo: sua ruptura da modalidade de exploração/produção para de especulação e o quanto isso traz consequências para a população mundial, principalmente aos menos favorecidos. Através de entrevistas em conjunto com imagens de arquivo o longa dá uma noção da panela de pressão que se tornou o mundo a partir da ruptura do capitalismo ‘produtivo’ para o especulativo através do mercado de ações. Tendo os bancos como centro de toda essa questão os entrevistados: David Harvey (Professor de Antropologia e Geografia da Universidade de New York); Maria José Fariñas Dulce (professora de Filosofia do direito da Universidade Carlos III, na Espanha); Boaventura de Sousa Santos (Professor de Sociologia da Universidade de Coimbra, em Portugal); Yanis Varoufakis (ex-ministro das finanças da Grécia) e Celso Amorin (ex-ministro das relações exteriores no Brasil) Tendler e o roteirista Sergio Barbosa de Almeida montam um painel da realidade mundial e ainda inclui nesse contexto os moradores das periferias, quando foca em personagens do município mais pobre do Rio de janeiro, Japeri.
Considerações finais
Sabe-se que o gênero documentário não tem o mesmo apelo comercial, ou mesmo o interesse do grande público como os blockbusters e filmes de ficção comercial (mesmo os cult), por mais que tragam de forma quase didática questões contemporâneas a serem pensadas. Documentário é um gênero que tem dificuldade de sustentar no circuito. O gênero já conseguiu avanços e tanto no fomento ao aumento de espectadores, tendo eventos específicos no mundo inteiro, no Brasil o grande destaque é o Festival É Tudo Verdade. Logo, dentro dessa realidade há que admirar quem aposte no estilo de narrativa e abordagem para o grande público com toda essa gama de informações e nesse nível.
Sendo o cinema um espaço um espaço público há que se reverenciar a liberdade que este espaço possui de trazer à baila, e cooptar interessados em, temas blindados para o grande público. “Dedo na Ferida” apesar de abordar um tema bastante específico, tem uma linguagem acessível, uma edição confortável ao entendimento e ajuda uma massa muito maior do que somente estudantes e acadêmicos a entender algumas questões bastante técnicas, além de explicar o porquê de uma realidade tão díspar de crises e tormentos sociais que abarcam o mundo inteiro. E, mais, descortina toda essa querela de não haver recursos para os benefícios sociais e garantias de direitos trabalhistas e nos mostra que a questão toma ares de projeto, e esse é o grande mote do documentário. Vale a pena assistir, vale a pena ver de novo, vale a pena recomendar, vale a pena ter na videoteca de casa.
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